Transcriptômica Espacial: Revelando o Tumor por Dentro
- Onco SP

- 30 de out.
- 3 min de leitura
Como mapear a atividade gênica em cada célula pode transformar a oncologia

A transcriptômica espacial é uma tecnologia inovadora que permite identificar quais genes estão ativos em cada célula de um tecido, preservando sua localização exata. Diferente das análises tradicionais, que misturam células e fornecem apenas uma média de expressão gênica, ela revela a organização interna do tumor.
Isso é fundamental porque os tumores não são homogêneos. Em um mesmo câncer, podem existir áreas inflamadas, com grande presença de células do sistema imunológico, e outras regiões onde células resistentes à terapia se escondem. Entender onde cada grupo celular está e como ele se comporta ajuda a explicar por que diferentes regiões do tumor respondem de forma distinta aos tratamentos.
Como é feito?
O processo começa com a coleta do tecido tumoral, que é preservado e cortado em fatias finas. Em seguida, plataformas especializadas — como Visium, GeoMx ou Xenium — capturam o RNA das células mantendo sua posição original.
Esses dados são então analisados por softwares avançados que criam mapas moleculares detalhados, mostrando a atividade gênica em diferentes regiões do tumor. Esses mapas permitem identificar grupos de células com comportamentos distintos e revelam interações entre células tumorais e células do microambiente, como fibroblastos e linfócitos.
Por que é importante para a oncologia?
A transcriptômica espacial oferece informações com impacto direto na prática clínica:
Heterogeneidade tumoral – Revela como diferentes regiões do tumor se comportam, explicando resistência a terapias.
Microambiente tumoral – Mostra a interação entre células imunes e tumorais, importante para imunoterapias.
Medicina de precisão – Identifica possíveis alvos terapêuticos e auxilia na personalização do tratamento.
Pesquisa translacional – Permite integrar dados com outras tecnologias, como genômica e proteômica, ampliando a compreensão do câncer.
Aplicações em diferentes tumores
Os avanços recentes mostram o poder dessa tecnologia em vários tipos de câncer:
Câncer de mama: estudos com transcriptômica espacial identificaram regiões com expressão aumentada de genes ligados à resistência hormonal e à evasão imunológica, mesmo dentro de tumores aparentemente homogêneos.
Câncer de pulmão: foi possível mapear áreas onde o microambiente tumoral impede a infiltração de linfócitos T, o que ajuda a compreender por que alguns pacientes não respondem à imunoterapia.
Glioblastoma: a análise espacial revelou “zonas de agressividade” próximas a vasos sanguíneos, onde células tumorais expressam genes de proliferação e invasão, contribuindo para a recorrência do tumor.
Câncer colorretal: identificaram-se nichos tumorais com perfis inflamatórios distintos, correlacionados à resposta à imunoterapia e ao prognóstico clínico.
Melanoma: a tecnologia mostrou como células tumorais se organizam para escapar da resposta imune, oferecendo novos alvos para terapias combinadas.
Esses exemplos mostram que o mapa espacial da expressão gênica pode orientar melhor o tratamento e ajudar a identificar pacientes que se beneficiarão de terapias específicas.
Desafios e perspectivas futuras
Embora extremamente promissora, a tecnologia ainda enfrenta desafios: alto custo, complexidade na análise de dados e necessidade de integração com outras informações moleculares. Mesmo assim, seu desenvolvimento é rápido, e a tendência é que se torne cada vez mais aplicável em cenários clínicos.
Com a transcriptômica espacial, o câncer deixa de ser visto apenas como um aglomerado de células anômalas e passa a ser entendido como um ecossistema complexo, permitindo abordagens terapêuticas mais inteligentes e personalizadas para cada paciente.




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