A Relevância do Cirurgião-Dentista no Suporte aos Pacientes em Tratamento Oncológico
- Onco SP
- 20 de mar.
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Atualizado: 31 de mar.
O Cirurgião-Dentista se insere no contexto do tratamento oncológico principalmente através do suporte aos pacientes em quimio e/ou radioterapia, visando proporcionar prevenção e tratamento das toxicidades orais comuns durante essa etapa.

TOXICIDADES ORAIS DO TRATAMENTO ONCOLÓGICO
Durante o tratamento oncológico por quimioterapia ou radioterapia na região de cabeça e pescoço, é comum que os pacientes desenvolvam toxicidades orais, que correspondem aos efeitos colaterais na cavidade bucal decorrentes da terapia. Essas toxicidades variam de acordo com o tipo de tratamento. Na quimioterapia estão diretamente relacionadas ao tipo e dose do fármaco administrado e na radioterapia dependem principalmente da dose total, fração diária da radiação e área irradiada. Geralmente, os sintomas surgem dias ou semanas após o início do tratamento, podendo ser temporários ou, em alguns casos, persistirem mesmo após a conclusão da terapia.
Toxicidades orais na quimioterapia
Os efeitos adversos mais frequentes incluem mucosite oral, xerostomia (sensação de boca seca), disgeusia e infecções oportunistas (como a candidíase oral). A mucosite se manifesta como inflamação da mucosa bucal, variando de áreas avermelhadas e sensíveis a ulcerações extensas e muito dolorosas. A xerostomia resulta da diminuição do fluxo salivar, enquanto a disgeusia representa alterações no paladar. Alguns pacientes podem ainda relatar sensibilidade dentinária aumentada e sangramento gengival. A gravidade desses efeitos depende do tipo e da dose dos quimioterápicos administrados, sendo o metotrexato, 5-fluorouracil e ciclofosfamida os mais associados. Além disso, pacientes em uso de bifosfonatos (para o tratamento de lesões ósseas) ou em terapia com anticorpos monoclonais, como o denosumabe, apresentam risco aumentado para osteonecrose dos maxilares.
Toxicidades orais na radioterapia
Na radioterapia para tumores de cabeça e pescoço, os principais efeitos adversos incluem dermatite, trismo, disgeusia, xerostomia, mucosite oral, candidíase, cáries de radiação e osteorradionecrose. A xerostomia ocorre devido à degeneração das glândulas salivares, levando à hipossalivação, que por sua vez favorece a ocorrência de cáries de radiação. Já a osteorradionecrose, mais comum na mandíbula, está associada a doses de radiação superiores a 50-60Gy e pode ser uma complicação grave e persistente. Entre essas toxicidades, xerostomia e o risco de desenvolvimento de cárie de radiação e de osteorradionecrose tendem a permanecer mesmo após o término do tratamento. O risco de tais complicações aumenta quando a radioterapia é associada à quimioterapia, devido ao efeito sinérgico entre os tratamentos. Além disso, fatores como higiene oral deficiente e tabagismo também contribuem para a maior incidência dessas condições.
PAPEL DO CIRURGIÃO-DENTISTA
O cirurgião-dentista atua de forma fundamental na prevenção, tratamento e suporte aos pacientes oncológicos que sofrem com essas toxicidades. As consultas odontológicas durante o tratamento não só previnem que algumas dessas toxicidades ocorram como também minimizam seus efeitos, proporcionando uma melhor qualidade de vida desses pacientes e um tratamento sem interrupções.
Em pacientes que realizarão o tratamento de radioterapia para tumores de cabeça e pescoço, o papel do cirurgião-dentista se inicia antes mesmo do início deste tratamento. É fundamental que uma avaliação odontológica seja realizada previamente ao tratamento, com objetivo de realizar procedimentos odontológicos necessários com o objetivo de adequar a boca e diminuir riscos de efeitos adversos. Essa avaliação também se faz necessária previamente à prescrição de medicações que ofereçam risco ao paciente de desenvolvimento de osteonecrose medicamentosa dos maxilares como os bifosfonatos e algumas terapias com anticorpos monoclonais.
Além disso, o cirurgião-dentista também pode atuar durante o tratamento oncológico, tanto na radioterapia quanto na quimioterapia, realizando consultas semanais para identificar possíveis efeitos colaterais. Para prevenção de mucosite, a realização da fotobiomodulação com laser de baixa potência tem se mostrado eficiente. Este tratamento modula a inflamação dos tecidos orais, na tentativa de prevenir e também tratar a mucosite oral, toxicidade que se não tratada pode causar a necessidade de uso de sonda nasoenteral e até mesmo a interrupção do tratamento oncológico.
O cirurgião dentista também realiza acompanhamento da saúde bucal dos pacientes fazendo avaliações clínicas, prescrições para controle da xerostomia, orientações de higiene e prescrição de enxaguatórios bucais para prevenção das cáries de radiação e também das prescrições necessárias em casos de infecção oral, como a candidíase pseudomembranosa.
Esse acompanhamento não se finaliza com o término da radioterapia e quimioterapia, visto que esses pacientes deverão receber cuidados odontológicos especiais por toda sua vida a fim de diminuir os ricos das complicações bucais permanentes, como a xerostomia, o risco de osteorradionecrose e osteonecrose medicamentosa.
Portanto, a presença do cirurgião-dentista dentro da equipe multiprofissional oncológica se faz importante principalmente para proporcionar aos pacientes uma melhor adesão ao tratamento oncológico, proporcionando melhor tranquilidade e conforto durante este período desafiador.
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